“A comunicação está no âmago da atividade prática coletiva, da produção social do conhecimento que emana dessa atividade e, ao mesmo tempo, a pressupõe. Portanto, está no âmago da produção histórica da sociedade e da autoprodução humana” (GENRO FILHO, 1987. p.126).
A edição de 27 de Novembro do Jornal da Ilha e a de 26 de Novembro a 2 de Dezembro do Novo Horizonte, trouxeram, ambas, uma mesma notícia com um enquadramento tendencioso e contraditório.
No Jornal da Ilha, a notícia intitula-se “Centro de Costura Dona Cota: Um presente para as futuras gerações”. No Novo Horizonte, a notícia traz o título “Um presente para as futuras gerações” e põe como chapéu[1]: “Centro de Costura Dona Cota”. Esse chapéu vem com as palavras em branco, com o fundo preto e, como Rafael Silva (1985) nos mostra, “O branco sobre o preto exprime um efeito negativo”. Um evidente problema de diagramação na tentativa de embelezar a notícia.
Claramente vemos que o jornal passa a ideia de que a obra é um presente, algo que traz enorme problema para o entendimento dos leitores, pois se trata de uma politica pública que, no mínimo, deve ser vista como uma obrigação da administração pública. As obras do poder público não são presentes, nem favores. Cada obra é fruto da arrecadação de impostos que devem ser aplicados às necessidades da população. Disso tiramos que: ou os jornais tem atrelamento com o poder público e fizeram essa propaganda de propósito ou foi um erro de compreensão da questão ao fazer a notícia. Gostaria da resposta dos jornais sobre essa pergunta, aqui no blog, em nossos comentários.
Outro ponto que deve ser tratado é que ambos os jornais publicaram a mesma notícia e, no Novo Horizonte, com alguns cortes em função do espaço. O NH deixou claro que a notícia é de autoria da Assessoria de Comunicação da prefeitura, já o Jornal da Ilha não o fez, passando a ideia de que a notícia do Jornal da Ilha foi feita pelo próprio jornal. O problema é que a Assessoria de Comunicação tem o claro e explicito objetivo de fazer a propaganda da prefeitura e com isso a notícia fica, no mínimo, duvidosa e apurada para esse intuito, a divulgação apologética.
Mas, não é por dizer que a notícia é da Assessoria de Comunicação que o NH se salva disso, vamos ver por que.
A função do release
Na comunicação e no jornalismo, existe o que chamamos de release. O release é um texto feito sobre os moldes de um texto jornalístico, mas com uma diferença básica: é feito por profissionais de uma empresa e fala sobre a firma. Lorenzon e Mawakdiye dizem que “O release (...) agrega valor às notícias e ao atendimento, ajuda a construir a imagem do cliente (empresa ou pessoa) e a criar fontes confiáveis e especializadas.” (2002, p.38).
Com isso percebemos que o objetivo do release é construir a imagem de seu cliente, o que sempre ocorrerá para o lado bom da coisa, em um release meu, por exemplo, vocês nunca vão ver informações ruins sobre o Lacrima, é lógico.
Aí dizem, “vocês do Lacrima só criticam a gente e nunca dão sugestões.”. SUGESTÃO: Releases devem ser lidos e usados como pontapé inicial para o jornalista ir atrás da notícia. Se o jornalista tem o papel de informar o público e mostrar os diversos lados da questão, atribuindo a importância na notícia de acordo com a necessidade do leitor, o release é a informação que tem sua importância não para o público, mas para sua empresa.
Deixo a análise do texto da notícia para nossos leitores, que podem comentar aqui depois.
Helder Mourão
REFERENCIAS:
SILVA, Rafael Souza. Diagramação: O Planejamento Visual Gráfico na Comunicação Impressa. São Paulo, Summus. 1985.
LORENZO, Gilberto; MAWAKDIYE, Alberto. Manual de Assessoria de Imprensa: Campos do Jordão: ed. Mantiqueira, 2002.
Agora ficou muito "poético" me pareceu como se estivesse apenas usando um "erro" dos "jornais" para expor seus conhecimentos sobre jornalismo, mas está valendo. Aprendi.
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