sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sermão institucional


Na edição referente à semana do dia 14 a 20 de abril de 2012, o jornal Novo Horizonte trouxe uma notícia intitulada “Críticas ao comodismo à espera por mudanças no atual sistema”. A matéria relata o que aconteceu na encenação feita pelos jovens católicos contra o atual Sistema de Saúde Pública do país.
A ideia inicial poderia até ser criticar o atual sistema de saúde pública, mas o que é descrito na matéria mostra-se tendencioso e unilateral, pois em vários recortes do texto o autor demonstra a sua visão muito particular sobre o fato.
Aqui estão alguns exemplos: “A ocasião foi propícia para que cada ator no palco improvisado, (...), expressasse o sentimento contrário à herança maldita deixada pelas gerações passadas”; “Em cada gesto simples os jovens souberam mostrar que o mundo é passível de mudanças, basta quem estiver no poder aceitar opiniões e abrir mão dos interesses particulares e egocêntricos”; “Em críticas a outros tipos de violência como drogas, aborto, prostituição e suicídio a decadência da vida humana é fatal. Alguns conseguem se socializar, outros tem destino horrendo”.
Com isso percebe-se que o autor não relata somente o acontecimento, mas ele também expõe claramente a sua opinião, o que vai de encontro com a prática de se fazer jornalismo informativo. Além disso, trata-se de um texto recheado de adjetivações, o que também deve ser evitado em notícias, já que o objetivo é que o leitor formule sua própria opinião. Tudo isso, fora os erros ortográficos que prejudicam a leitura.
Portanto, o autor prejudicou seu relato, pois faltou um posicionamento mais factual para que o leitor pudesse retirar do texto suas próprias considerações, e não ser intensamente influenciado a concordar e pensar de acordo com tudo o que está escrito na quase-notícia de interesse público. Digo assim, pois se percebe também que a notícia é fortemente voltada para o público católico e não para a sociedade em geral. 

Hanne Caldas

quinta-feira, 26 de abril de 2012

DESAFIO LACRIMA: ÁGUA PARA QUEM?

De qualquer forma, pagamos a água duas vezes!

Como o objetivo do observatório é propor mudanças e dar sugestões para a mídia amazonense, vamos agora sugerir pautas completas para notícias e reportagens. Essas pautas levam em conta a informação com interesse para o povo. Além de informá-lo sobre o fato, será proposta uma visão sobre os interesses que envolvem o leitor, maior afetado pelo que ocorre na cidade e o interessado pela informação de qualidade no jornal.
Trata-se não apenas de uma sugestão, mas de um desafio para os jornais de Parintins, que terão metade de seu trabalho feito por nós.
Há uma série de fontes para que o jornalista escolha quais usar, fica a seu critério, isso aqui é uma espécie de desafio e uma sugestão. Por isso gostaríamos de ver informações, sobre esse tema, nos jornais. Se a mídia de Parintins entende, como todos nós, que esse assunto é importante e o público deve ouvir vários lados e outras experiências, que os jornais ofereçam o espaço que merece, sugerimos, pois, uma reportagem ampla sobre o assunto.

PROPOSTA DE ENQUADRAMENTO
O enquadramento da matéria jornalística é o direcionamento dado ao fato. Um professor e pesquisador do enquadramento jornalístico, Danilo Rothberg, diz que:
“Na prática jornalística, um enquadramento é construído através de procedimentos como seleção, exclusão ou ênfase de determinados aspectos e informações, de forma a compor perspectivas gerais através das quais os acontecimentos e situações do dia são dados a conhecer. Trata-se de uma idéia central que organiza a realidade dentro de determinados eixos de apreciação e entendimento... (2007, p.3)”.
É comum nos jornais de Parintins um enquadramento que direciona a notícia ao bem dos políticos e do poder público. Aqui buscamos propor um enquadramento que priorize a população e seus direitos.
Para isso sugerimos as fontes para que se possa ter uma noção do que realmente envolve uma questão de privatização da água. Na França, por exemplo, onde surgiram às primeiras experiências de concessão do sistema de distribuição de água, o governo está reestatizando os serviços. Os principais motivos foram que a qualidade do serviço e da água caíram, os preços subiram exorbitantemente e o serviço não foi universalizado.
Não precisamos ir longe, trazemos abaixo como fonte um relatório denominado “Livro sobre os impactos da privatização da água em Manaus”, temos uma boa e próxima experiência.
Água é direito social garantido por lei, ela não pode ser cortada por falta de pagamento o que faz inútil a proposta posta a Parintins. Diferente de outros serviços, a água é necessária para a vida.
Se o SAAE não está conseguindo manter as contas e está tendo problemas com a inadimplência, privatizar não resolve. Primeiro porque não se trata de uma empresa privada, logo ele não deve lucrar. Segundo, se trata de um investimento, uma política pública do município, que precisa ter em seu orçamento os gastos para a água, orçamento proveniente de impostos. Nós pagamos a água duas vezes, com impostos e com a conta. Se nossa conta for paga para uma empresa, o dinheiro que iria para o município, e retornaria em forma de políticas, agora ficará em mãos privadas, sem retorno, outra perda notória.

PROPOSTA DE FONTES
O poder público deve explicar seus motivos, por isso é necessário ouvir esses representantes, principalmente os vereadores. De antemão sugerimos essas perguntas:
1.         Se há um problema de inadimplência, como a privatização do serviço pode ajudar, já que por lei a água não pode ser cortada por falta de pagamento?
2.         Pagamos impostos e a conta de água, significa que pagamos a água duas vezes?

O povo é o maior interessado, por isso é necessário ouvir as associações e presidentes de bairros, bem como outras organizações civis. Ouvir as universidades também é fundamental, já que se trata do investimento intelectual da sociedade.

OUTRAS FONTES SÃO:
O geógrafo Juscelino Bezerra tem estudos sobre o assunto e já ministrou palestras sobre a temática da privatização da água. Ele se dispôs a responder perguntas por e-mail. Abaixo vai uma conversa na qual ele se dispõe a responder as questões e junto seu endereço eletrônico.

Livro sobre os impactos da privatização da água em Manaus

No Brasil, a legislação do setor hídrico tem seu marco histórico no Código de Águas, Decreto 24.643/34, que teve diversos dispositivos derrogados pela Constituição Federal de 1988, bem como pela Lei 9.433/97, Lei dos Recursos Hídricos.
A água como recurso limitado e dotado de valor econômico (artigo 1º, II Lei 9.433/97).

Artigo 1º, V Lei 9.433/97.
A gestão é tanto do poder Público, dos usuários (com ou sem outorga) e das comunidades inseridas na unidade. É o princípio participativo justamente o adequado para a visão da água como um bem coletivo da esfera social. O que pode ser resolvido pelos regantes na bacia hidrográfica não deve ser levado às esferas de decisão superior. O que significa que a decisão sobre cortes e não-fornecimento de água fica à critério desses citados acima, pois:

A essencialidade do serviço de fornecimento de água é de longa data proclamada pelo TJRS, como demonstram os julgados que cito exemplificativamente: AI 70010308286, Rel. Des. Rejane Maria de Castro Bins ‘sendo a água bem essencialíssimo para a sobrevivência humana, inviável permitir que a empresa estatal, concessionária desse serviço e organizada para cumprir o papel do Estado, a quem cabe prover aos serviços essenciais, possa cortar o abastecimento por conta do inadimplemento, julgado em 17-02-2005.

Há uma grande discussão e movimento de estatização da água no mundo, principalmente dos países que a privatizaram e descobriram que não é a melhor opção:

MAIS DE 25 MILHÕES DE ITALIANOS VOTARAM PELA ÁGUA PÚBLICA

MOÇÃO: NÃO À PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA - Lisboa, 22 de Outubro de 2011

PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA NA AMÉRICA LATINA

CONCESSÕES PRIVADAS DE SANEAMENTO NO BRASIL: BOM NEGÓCIO PARA QUEM?

SITE: ONG ÁGUA PARA O BRASIL

ATÉ A IGREJA CATÓLICA É CONTRA!
 Helder Ronan

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Campanha “Abril Vermelho” precisa ser reportada

Monumento criado pelo artista Dan Cohen em homenagem aos 19 sem-terras assassinados em Carajás


No dia 16 de abril de 2012 foi marcada no Brasil a Campanha “Abril Vermelho” que se trata de uma manifestação de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) em que reivindicam rapidez no processo de reforma agrária.
O jornal Dez Minutos publicou uma noticia no dia 17 de abril intitulada “MST invade ministério”. Na manchete pode-se observar que o verbo “invadir” é colocado de forma negativa. No decorrer das informações o fato é direcionado para a ocupação do prédio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em Brasília citando a “jornada de luta” que se refere a “Campanha do Abril Vermelho”. A matéria em nenhum momento cita o que realmente significa a Campanha para o movimento, que recorda a chacina de Eldorado do Carajás (PA). O fato aconteceu no dia 17 de abril de 1996 e resultou no assassinato de 19 lutadores do MST pela Polícia.
O jornal Dez Minutos ignorou o massacre em Carajás direcionando o foco para a suposta “invasão” do MST, ou seja, deu um enquadramento desmerecedor à informação, excluindo informações que poderiam engrandecer a matéria, pois muitas pessoas não sabem o que significa a “Campanha do Abril Vermelho”. De acordo com Porto (apud ROTHBERG, 2007) os enquadramentos são “marcos interpretativos mais gerais construídos socialmente que permitem as pessoas fazer sentido dos eventos e das situações sociais”.
Além de não esclarecer do que se trata a Campanha, na matéria só foi ouvida uma única fonte, o José Damasceno (da coordenação nacional do movimento) que relata o inicio da manifestação e a questão da reforma agrária. A notícia encerra informando que haverá outras ocupações ao longo da semana, sendo que há uma previsão para ocupações em todo país até o próximo dia 30.
Contudo, no momento em que a matéria não explica o que é a “Campanha do Abril Vermelho” o leitor fica sem entender a real situação que levou as manifestações do MST em todo País. A má abordagem jornalística resulta na falta de credibilidade do veículo, pois um dos compromissos do jornalista é ser leal aos cidadãos, além de manter as notícias compreensíveis e equilibradas (PENA, 2008).

Tuanny Dutra

terça-feira, 24 de abril de 2012

O espaço tá aberto, mas faltou jornalismo



Na edição nº 31 do dia 02 de abril de 2012, o jornal Gazeta Parintins trouxe uma divulgação intitulada “Nota na íntegra”, que se trata sobre o polêmico assunto da privatização da água no município.
É válido observar que é importante o jornal apresentar esta nota à sociedade, para que sejam divulgadas as ações da União das Associações de Moradores do Município de Parintins com relação à privatização do SAAE.
Por outro lado, percebe-se que o jornal se isenta de qualquer posicionamento sobre o assunto, visto que em todo o restante do corpo do jornal não é possível encontrar nenhuma notícia relacionada ao assunto.
Seria muito válido o jornal além de publicar a “Nota na íntegra” utilizar esta como proposta de pauta para desenvolver uma notícia que explicitasse e problematizasse para a população e para o próprio município as consequências de privatizar a água.
Além disso, na nota também aparece o trecho que diz que a Associação irá se unir com as universidades UEA e UFAM, mas não é dado relevo a nenhum representante dessas instituições, o que já poderia ser utilizado como fonte de informação para uma notícia que fosse produzida pelo jornal. Outra informação que consta na nota e que poderia ser explorada é quando diz: “essa decisão foi tomada pelos representantes das seguintes associações: Itaúna I, Itaúna II, Paulo Corrêa, Bairro União, (...)”, pois estes representantes também podem ter vez e voz para serem explicitados como fontes de informação e opinião sobre o assunto.
Portanto, diante do acontecido percebe-se que faltou mais posicionamento por parte do jornal, mas que agora já possui juízos para desenvolver uma pauta sobre o fato da privatização da água no município de Parintins, e enfim poder mostrar a população os meandros dessa importante questão.

Hanne Caldas

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Única fonte, único olhar



            Não utilizar mais de uma fonte em uma matéria faz com que se evidencie apenas um ponto de vista acerca de um assunto. Isso é notado em uma matéria publicada no dia 25 de março pelo jornal Repórter Parintins.  Tendo como chamada “Professor enganava até a Diocese de Parintins”, a matéria serve como um espaço para que o bispo de Parintins, Dom Giuliano Frigeni, mostre sua opinião sobre a polêmica gerada a partir da acusação de falsificação de documentos feita pelo professor Valdson Soares.
            O texto inicia-se já de uma forma que dá a entender que o professor será atacado durante todo o seu decorrer, pois, de primeira, coloca-se uma fala da autoridade religiosa afirmando que ele sempre foi problemático. O ataque fica mais evidente no terceiro parágrafo, no qual o sacerdote afirma que o professor é esquizofrênico, e precisa ser tratado com um psiquiatra. 
            A depreciação da imagem do docente chega ao seu ápice no quinto parágrafo, no qual o mesmo começa com a fala do bispo desmentindo o fato de os estudos de Valdson serem fomentados pela Igreja. Depois disso, reinicia-se a ofensiva contra o professor, tendo em vista que, segundo o bispo, o estado de tormento do educador é avançado, o que demonstra claramente o objetivo da matéria em criminalizá-lo.
            No final, a notícia ganha um caráter mais tênue, em vista que há a explicação de que o jornal procurou manter contato com o professor, sendo que não foi possível pelo fato de o educador não atender os telefonemas do impresso. Além disso, mostra-se o apoio de ex-alunos e amigos na rede social Facebook.
            Com a utilização de uma única fonte, a matéria parece ter sido usada como um espaço destinada a Dom Giuliano “tacar o terror” sobre o assunto. Não tendo conseguido manter contato com o professor, o jornal deveria procurar e entrevistar amigos, familiares e ex-alunos para saber a opinião deles sobre o caso. Várias visões sobre o ocorrido fariam com que a matéria se tornasse mais rica em informações.

Daniel Sicsú


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Foto sem nexo



A edição nº 45 do jornal Plantão Popular de 3 de abril de 2012 traz a seguinte matéria em destaque:  “Sai edital do concurso da prefeitura”. Porém, a foto da capa não condiz com o conteúdo exposto, o que dificulta a compreensão da imagem. O que dá a entender com isso é que o editor não escolheu a foto adequada, e foi infeliz em sua escolha. É fundamental rever as matérias antes de publicá-las, pois falta de precisão pode confundir os leitores. O que tem a ver o concurso público com agentes de saúde observando um terreno com possíveis focos de dengue?  Embora portadora de sentido, a fundamental importância na capa é o concurso publico em si. O conteúdo e a foto da capa deveriam ter uma ligação, mas isso não ocorre nessa noticia.  
 O jornal informa sobre o concurso público da prefeitura, trazendo informações sobre como será realizado o processo seletivo e o preenchimento das vagas (2.255) para os vários níveis de formação, desde o nível superior ao nível fundamental incompleto. A previsão da realização das provas, a parceria com o CETAM (Centro de Educação Tecnológica do amazonas) e o que deve ser feito antes da inscrição.
Tirando o erro da capa, seus autores exploram bem o assunto. As fontes escolhidas, contudo, são na maioria das vezes as mesmas: o poder público municipal, o vice prefeito e o prefeito. Messias Cursino aparece em quase toda matéria, por seu ato de assinar o edital. Ele expressa sua opinião e fala da previsão da realização das provas para o mês de junho. O prefeito Bi Garcia, que não se encontrava em Parintins, também fala sobre o assunto e promete mais vagas além das anunciadas. A corrida eleitoral já começou em Parintins e as fontes oficiais ganham proeminência questionável.


Tyago Barbosa

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Vamos investigar?



            A edição do dia primeiro de Abril do Jornal Repórter Parintins trouxe uma pequena matéria intitulada: “Mentira não é crime”, a matéria fala sobre o caso Valdson de Souza Soares (professor da UEA que está sendo investigado por falsificar sua títulação acadêmica).
Esta notícia traz um título opinativo, e sabe-se que na tradição jornalística os títulos devem ser informativos, para que o leitor tenha a partir dele uma noção sobre o que a matéria estará dizendo. Sousa (2001, p.201) afirma: Um bom título acrescenta valor a uma peça jornalística. (...) os títulos devem ser informativos, sintetizando o núcleo duro da informação numa frase curta, forte e sedutora (...). Devem ser claros, concisos, precisos, atuais e verídicos. Lendo-se títulos assim redigidos, torna-se possível, de imediato, apreender a informação mais relevante que um jornal oferece”. 
Mais uma falha identificada ao longo da notícia é que o autor colocou um subtítulo chamado: Caso Cesbam – falando sobre o fechamento da instituição feito pelo MEC. Esse caso é conhecido no município parintinense, mas não coube citá-lo dentro deste texto porque não teve justificativa, não teve gancho com a matéria. É como se o autor estivesse falando de duas coisas diferentes. Em uma parte fala do caso Valdson e na outra do caso Cesbam, são fatos que não se conectam.
Outra observação importante é que o jornalista colocou na matéria o seguinte trecho: “Valdson lecionava na instituição desde 2006, dois anos antes de prestar o concurso para professor, em 2008. Em 2006, o diretor era o Pe. Francisco Dinelly, velho conhecido de Valdson da época de seminário”. Mais do que as palavras literais, o autor do texto nos deu elementos para que surgisse uma espécie de curiosidade por parte do leitor, mas acredito que o mais importante desta matéria é esse trecho, porque ele infere algo que deve ser investigado, não só por parte do jornalista, mas por parte das autoridades envolvidas neste caso. É esse fragmento do texto que trouxe o valor-notícia, esta é a novidade do acontecimento.

Sugestão: A equipe LACRIMA sugere a todos os jornalistas do Jornal Repórter Parintins, ou de qualquer outro jornal do município, que investiguem esta informação e que tragam para nós, leitores, novidades e respostas para esse caso. Se há de fato, algo intrínseco nesta notícia, que tragam a tona.

Yasmin Cardoso

Referências:
SOUSA, Jorge Pedro. Elementos do Jornalismo Impresso. Porto: Universidade Fernando Pessoa, 2001.

domingo, 8 de abril de 2012

A TV Alvorada e a Páscoa




Na edição desse dia 30, do Jornal da TV Alvorada, apareceram duas notícias que merecem destaque pela posição que os jornalistas tomaram ao fazerem seu trabalho.
A primeira tratou de uma missa em função da proximidade da páscoa e a renovação dos votos eclesiásticos e do batismo dos católicos. O que deve ser notado é que a notícia durou cerca de cinco minutos, dos quais três deles foram usados para mostrar uma parte da missa.
Sem querer descaracterizar a importância da missa para fieis católicos, vale lembrar que para Pierre Ganz, escritor de A Reportagem em Rádio e Televisão, Jaime García, escritor de Realización de los Géneros Televisivos e Jean-Jacques que escreveu Jornalismo Televisivo, o tempo de uma reportagem de noticiários deve variar entre os dois e dois minutos e meio.
Para esses autores, esse tempo tem que ser curto para que o telespectador consiga absorver a ideia principal da notícia sem se perder na torrente de conteúdos. Reforço que não é objetivo descartar a importância da missa para os fieis católicos, mas o jornalismo tem o papel de informar e também opinar, quando for o caso.
A outra notícia tratou da programação especial de páscoa. O interessante é que o repórter disse: “convidamos todos para a programação da Igreja sobre a páscoa”. Nesse momento o jornalista mostrou que não fez a notícia como repórter, mas sim como integrante da comunidade católica.
O que as duas notícias nos mostraram é que o Sistema Alvorada e seus integrantes estão mais preocupados com a missa e a evangelização do que com o jornalismo, um serviço público, principalmente de rádio e TV que dispõe de concessões públicas para funcionar. Os repórteres se colocam no papel de parte do próprio conteúdo, afastando-os do seu papel e inserindo, em um ambiente público, suas escolhas privadas.

Helder Mourão

Referências:
GANZ, Pierre - A Reportagem em Rádio e Televisão. 1ª ed., Lisboa, Editorial Inquérito, s.d.
GARCÍA, Jaime Barroso, Realización de los Géneros Televisivos, 1ª ed., Madrid, Editorial Síntesis, 1996.
JESPERS, Jean-Jacques - Jornalismo Televisivo. 1ª ed., Coimbra, Minerva, 1998.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Apuração questionável e termos técnicos atrapalham informação




O jornal Gazeta Parintins, edição nº 25 do dia 12 de março, trouxe a notícia intitulada “Jovem assassinado na madrugada de sábado”. Na capa do jornal foram utilizadas duas imagens da vítima. A primeira foto é uma 3x4cm e a segunda mostra o corpo da vitima no IML, sendo um recurso buscando a atenção do leitor. Podemos atribui a utilização das fotos e o título da matéria “Jovem assassinado na noite de Sábado” ao chamado sensacionalismo. Este se refere às ações e narrativas que procuram provocar sensações no receptor.  
            Na matéria, são usadas como fontes a mãe da vítima, Claúdia Inês dos Santos e o Delegado Ivo Cunha. No segundo parágrafo da notícia é apresentada a citação do delegado detalhando o caso e em seguida, no terceiro parágrafo, é colocada a fala da mãe da vítima, uma citação extensa que o autor divide em dois parágrafos, usando-se a mesma fonte. Como nenhum comentário é elaborado após a citação, acredita-se que o responsável pela composição da notícia não procurou mais fontes, fazendo o uso de dois depoimentos de uma mesma entrevista. Ou não possuía mais argumentos para introduzir novas informações na notícia.
           No segundo parágrafo o autor afirma que “homicidas confessaram o crime e todos são maiores de idade”, não há necessidade de informar que os mesmos eram maiores de idade, pois não é um fato relevante neste caso. Fica suposto que há uma tendência de menores infratores na cidade, algo não documentado em nenhum local.
Na notícia são usados também termos como “tórax (região do pulmão esquerdo, explicada na matéria)” e outros termos como “necropsia” e “choque hipovolêmico”, mas que não foram oferecidos seus significados como no primeiro termo usado. No último parágrafo, o texto diz “a vítima morreu após choque térmico, uma perda grande sanguínea”, novamente o autor poderia ter utilizado os parênteses “()” para explica o significado do termo “choque hipovolêmico”, facilitando o entendimento do leitor sobre o assunto.  

        Kamila Souza

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Mulher seminua vende jornal?

Visão machista prejudica acesso do público feminino ao jornal

Na edição nº 1080, do dia 20 de março de 2012, o jornal Dez Minutos trouxe, mais uma vez, uma edição recheada de mulheres super cortejadas pela grande massa masculina.
Como é de praxe, trouxe na chamada de capa a imagem de uma mulher com trajes mínimos para dar destaque a suas curvas e seios, e com a legenda: “A Bella da Semana”. Trata-se de um ensaio fotográfico que é mostrado na última página do jornal.
Além da capa, na contracapa do periódico, em que aparece o ensaio da chamada de capa, aparecem também várias fotografias de outras celebridades que estão na mira dos paparazzi para serem clicadas diariamente em seus momentos mais pitorescos possíveis. Aliás, é isso que é vendido, as suas respectivas imagens seminuas ou completamente despidas.
O debate é: além dessas mulheres venderem seus corpos como imagens pitorescas ocorre aí a reificação da imagem feminina, ou seja, se tornam meros produtos de mercado, um produto à venda e com prazo de validade de no máximo um dia.
Além disso, vale ressaltar que esta empresa parece considerar que somente homens compram e leem este jornal, o que representa ser uma visão estritamente machista, pois esta raramente traz um ensaio masculino, haja vista que nunca presenciei tal fato. Mas eis o questionamento que não quer calar: Então, por que vender somente a imagem feminina? Seria o discurso machista que ainda prevalece na sociedade?
Não se pode aferir que a proporção do público masculino que compra o jornal seja maior do que o público feminino, mas é o que o jornal está forçando parecer, devida a grande quantidade de assuntos voltados para este público.

Hanne Assimen