quarta-feira, 21 de março de 2012

Mulher ou objeto?


Na edição nº 30 do dia 13 de março de 2012, o jornal Plantão Popular publicou uma notícia intitulada “Churrasqueira morre em acidente”. Trata-se de um acidente fatal que ocorreu com uma vendedora de churrasco na noite do dia anterior.
Repare no título: a palavra “Churrasqueira”. Inicialmente quando lemos a manchete, parece que se trata de um objeto e não de uma vendedora. Ou seja, trata-se de uma palavra com duplo sentido e consequentemente tem grande potencial para confundir o leitor. Além disso, fica explícito que o jornal deu mais importância à profissão da mulher do que a própria existência “humana” dela.
Ao longo da notícia é somente relatado como possivelmente aconteceu o acidente, mostrando apenas as vozes das testemunhas oculares. Ao final do relato aparece a citação: “Pelas informações, a Polícia chegou à residência do Médico Renan Nascimento, que já estava deitado quando a polícia bateu à sua porta”. A informação está incompleta, pois o motorista que causou o acidente não foi ouvido, o que mostra que houve um enquadramento[1] unilateral da situação, dando assim margem para o leitor entender que fora um acidente consciente por parte do autor.
Enfim, o jornal falhou no complemento das informações, pois a notícia ficou em aberto e isso suscita dúvidas aos leitores. Além disso, deixa o público sem o conhecimento de fato sobre o que se trata o assunto.

Hanne Caldas


[1] Na prática jornalística, um enquadramento (framing) é construído através de procedimentos como seleção, exclusão ou ênfase de determinados aspectos e informações, de forma a compor perspectivas gerais através das quais os acontecimentos e situações do dia são dados a conhecer.

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